terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Patrícia

Patrícia estava sentindo-se maravilhosa. Inesperadamente, toda a angústia que vinha sentindo nos últimos dias parecia ter se dissipado. A dorzinha de cabeça insistente, os quilinhos a mais que insistiam em acumular-se no abdômen, o reconhecimento no trabalho que parecia não acontecer nunca. Tudo isso parecia insignificante, coisas sem importância.

Estava tranqüila, como se anos de terapia tivessem se passado de um dia para o outro. Sentia-se mais motivada e mais preparada para enfrentar o futuro, e o mais curioso é que não havia nenhum motivo aparente para tanto.

Não havia feito sexo na noite anterior, não assistiu a um filme inspirador, não teve nenhuma conversa reveladora com um amigo gay, não chorou, não fez compras, não tomou antidepressivos e, meu Deus, nem comeu chocolate.

Não refletiu sobre seus problemas, não buscou uma solução para suas incertezas, não havia batido com a cabeça e, até onde ela própria podia constatar, não estava louca.

Ninguém pareceu notar a diferença e continuaram a tratá-la com a indiferença de hábito, mas isso não a afetava, nem a incomodava.

Patrícia estava em paz consigo mesma. E, sorrindo levemente, percebeu que tudo o que precisava para encontrar a paz era parar de procurá-la.

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