quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Elegia (em prosa)

Ontem presenciei uma discussão interessante. De um lado, uma pessoa que acreditava que Deus nos dava a vida e a morte, que a maior parte do que nos acontecia era a vontade de um ser supremo e sábio, que ajustava nossa vida com uma lógica além da nossa compreensão.

Do outro, alguém que acreditava que somos muito mais responsáveis sobre nossas vidas do que queremos acreditar. Vivemos agradecendo ou culpando Deus quando, na verdade, deveríamos estar prestando mais atenção em nossas próprias ações.

Acho que os dois argumentos estão certos, o que, por conseqüência e ironia, significa que os dois também estão errados.

É óbvio que temos controle sobre nossas vidas e é óbvio que determinadas coisas que nos acontecem são conseqüências, diretas ou indiretas, de algo que fizemos, ou, mais comumente, que deixamos de fazer.

Mas existe o imponderável. E entre todas as coisas imponderáveis, a maior delas é a morte. Não temos como saber quando vamos morrer e não temos como impedir ou prever a interferência da morte.

Até mesmo suicidas falham ocasionalmente. Acidentes impressionantes por sua brutalidade, volta e meia deixam sobreviventes sem um arranhão. O doente terminal que sem dúvida morreria ontem, está vivo hoje e talvez morra apenas amanhã.

No instante que em que ganhamos a vida, ganhamos também a morte. A morte é algo certo, que nos acontecerá a todos e é, possivelmente, o maior de todos os imprevistos.

Descanse em paz, tia Neli.


 

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