quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Três pequenas coisas, primeira parte

Desculpem-me pelo longo intervalo em meus escritos, mas eu estava viajando. Em minhas viagens, passei por muitos lugares e encontrei três homens extraordinários.

O primeiro deles morava em uma casa na qual toda a parte leste era feita de vidro. Ao se aproximar da residência por essa direção, inevitavelmente qualquer pessoa veria o movimento interno da casa e uma sensação de estranheza em relação àquela bizarra arquitetura seria bem provável. Por que alguém viveria assim, sob o escrutínio de seus vizinhos, criaturas que podem, como todos sabem, ser bem terríveis?

Se era a luz natural que ele buscava, por que não colocar ao menos uma pequena cerca para impedir os olhares curiosos? Por que não usar o vidro no teto para preservar sua privacidade e, mais ainda, sua segurança?

Bati à porta deste homem extraordinário, levado pela também extraordinária força da curiosidade e dele obtive, após uma conversa, franca, aprazível e pontuada por amenidades, a seguinte confissão: sua mãe o havia deixado quando ele ainda era muito novo. As circunstâncias sob as quais a moça havia partido foram tristes, mas não essenciais ao entendimento do meu relato. Então, por discrição, em consideração à enorme falta de discrição a qual esse homem submeteu sua própria vida, não vou entrar neste pormenor.

O fato é que a mãe do sujeito o havia deixado há cerca de 20 anos e, certo dia, ele teve um sonho. Sonhou que sua mãe estaria voltando, e que chegaria pelo Leste.

— Assim, poderei vê-la ao longe. Não corro o risco de ela chegar ao pé da porta e recuar, arrependida. Quando ela vier, eu saberei.

— Mas como pode saber se ela realmente virá? – Perguntei, incrédulo. Pois ainda se estivéssemos falando de um bilhete deixado pela moça – mas um sonho?

— Eu não sei. Eu acredito que ela virá. São duas coisas muito diferentes.

— Diferentes como?

— Saber não é a mesma coisa que estar certo. Nosso conhecimento é limitado pela nossa capacidade de interpretação. Eu poderia saber que a minha mãe viria e, no entanto, caso não acreditasse nisso, esse conhecimento de nada me serviria, pois ele não me traria nem conforto, nem esperança.

E, depois de um breve silêncio, com os olhos fixos no leste, ele concluiu:

— Mas sempre é possível acreditar.

Saí de lá pensando nas coisas que eu sabia e nas coisas nas quais eu acreditava e me peguei pesando quais teriam maior impacto em minha vida e em minhas decisões como pessoa. Foi uma reflexão surpreendente e percebi que aquele homem havia me ensinado o que era fé.

Agora é tarde e outras atividades estão cobrando o seu quinhão de tempo. Em breve relatarei os meus outros encontros aqui, nesse mesmo diário de viagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário