quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Bastardos Inglórios


Vamos ser honestos: Bastardos Inglórios não é um grande filme. Veja por que:

1. A trama: embora a premissa seja espetacular, um grupo de ianques entrincheirados atrás das linhas inimigas com o único objetivo de matar nazistas, o desenvolvimento da história é por demais previsível. Talvez não previsível do ponto de vista holywoodiano, mas a verdade é que eu já sabia como a grande maioria das cenas iria acabar – talvez eu tenha visto filmes demais do Tarantino, mas, enfim...

2. Tarantino também se repete na direção: o filme é um cachorro de um truque só: diálogos ambíguos no qual uma das partes está acuada e a outra exercitando o sadismo da tortura psicológica. Bom. Mas fica melhor quando dosado de forma mais parcimoniosa. Também achei que o tom de muitas das cenas ficou intermediário: nem humor negro, nem drama, nem nada. O personagem de Mike Myers não é nem engraçado, nem sério, nem trágico – ficou só esquisito. Algo como: "quase engraçado".

3. A fotografia: Ora belíssima, ora exageradamente B. A dança de estilos funcionou maravilhosamente em Kill Bill, mas, em bastardos, deixa o filme irregular, errando o tom às vezes.

4. A trilha sonora: pontuada pelo exagero, o tom de cartum funciona de vez em quando, mas em Pulp Fiction o mesmo exagero foi usado de forma mais interessante.

Mas é um filme imperdível, porque o fato de Tarantino se repetir como diretor tem suas vantagens:

1. Personagens: Os filmes de Tarantino têm personagens marcantes e inigualáveis e em Bastardos isso não é diferente. O melhor deles é o Coronel Lana, o caçador de Judeus inteligente, histriônico e candidato ao Oscar, sem dúvida. Bradd Pitt chega perto com o seu Aldo Apache, e o restante dos Bastardos também é interessante. Me surpreendeu muito a personagem Bridget Von Hammersmark. A atriz alemã vivida por Diane Kruger chaga a ser mais marcante que a sofrida Shosanna (ou algo aprecido), personagem de Julie Dreyfuss – que está bem no filme, o personagem dela é que é meio burocrático de vez em quando.

2. Diálogos: Tarantino tem um timing peculiar em seus diálogos, frequentemente surreais. E o texto de Bastardos Inglórios, embora inferior em muitos aspectos a outros filmes do diretor, ainda é inteligente o suficiente para ser engraçado e/ou chocante na medida certa.

3. Ousadia: Desde a história, que não segue a História, até as opções de edição, som e fotografia, Tarantino tem o seu próprio livro de regras – e elas, apesar de irregulares, quando funcionam, proporcionam uma experiência única. Só o fato de dar um tratamento de western a um filme de guerra diz muito sobre o jeito Tarantino de fazer cinema.

Enfim, Bastardos Inglórios não é marcante como Cães de Aluguel, não é inovador como Pulp Fiction, não é ousado como Kill Bill. É só mais um filme de Tarantino. Mas, por enquanto, isso ainda é razão suficiente para ir ao cinema.

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