sexta-feira, 30 de junho de 2006

Entrando para a História

Recentemente, em uma declaração infeliz, Parreira disse que quem entra para a história é o campeão e não quem joga bonito. Entendo o ponto de vista dele, o de alguém pressionado e emputecido, sem paciência para repetir, pela centésima vez, que a seleção quer, sim, jogar bonito, só não está conseguindo. Além disso, sou o primeiro a concordar que o importante é ganhar e não competir, mas esse raciocínio tem um ponto fraco: a exceção. E a exceção, ao contrário do que diz o ditado, sempre desmonta a regra.
Como esquecer a Holanda de 74? Eu tinha um ano de idade na época e lembro como se fosse hoje. Não por causa de uma suposta memória prodigiosa, mas porque o mundo não me deixa esquecer. São vídeos, histórias e textos louvando o fantástico carrossel, uma coisa nunca vista antes e que não será vista novamente. E a seleção de 82? Cerezo, Júnior, Falcão, Zico, Éder, Sócrates, Leandro e até o Serginho Chulapa. Inesquecível.
E o futebol ainda tem um agravante: é o esporte da exceção. É o único jogo coletivo no qual o pior pode ganhar. Pode jogar pior o tempo todo e, em um lance fortuito, fazer um gol em um chute improvável de fora da área e pronto, vitória do medíocre. Nos outros esportes, jogados com a mão, a precisão é muito maior e a técnica faz muita diferença. Eu jamais conseguiria passar por um jogador de basquete profissional e fazer uma cesta, mas não é muito improvável fazer um gol em um goleiro profissional. Você nunca verá um bom jogador de handebol arremessando a bola no teto do ginásio. No futebol, são poucos, se é que existe algum, que nunca isolaram uma bola. Enfim, no futebol, a exceção é a regra – e o resto é história.

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