segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Jogo do Brasil

A Turma do Siri estava eufórica. Tudo pronto para o tão esperado jogo da Seleção Brasileira em Brasília. O adversário era o Chile e o empate já garantia a classificação para a Copa da Alemanha. Todas as estrelas, com exceção do Ronaldinho Gaúcho, iam estar presentes. Adriano, Kaká, Robinho e Ronaldo, inclusive, começariam jogando. Enfim, oportunidade única.
A rapaziada tinha passado a semana inteira concentrada na casa do Nando costurando o bandeirão de vinte metros. Mas foi na manhã do jogo, enquanto o pessoal fazia bagunça na frente do hotel da seleção que o primeiro imprevisto surgiu. O Portuga teve um treco, um piripaque qualquer. Revirou os olhos, deu uns tremeliques e desmontou no chão. Já estava pra lá dos sessenta e tinha participado da noitada do dia anterior que, a rigor, ainda não tinha terminado.
O Otávio perdeu no palitinho e teve que levar o Portuga pro hospital. O Portuga não tinha família ou, se tinha, devia estar em Portugal. Otávio não podia largar o amigo desacompanhado e, pela gravidade do troço, já estava achando que ia perder o jogo, mas o Portuga foi um verdadeiro herói. Com os olhos cheios de água, segurou na mão do Otávio e disse:
— Vai sem mim...
— Pô, Portuga...
Os dois se abraçaram e o Otávio voltou correndo.
Já o Siri tinha um problema para resolver. Sem o Portuga, quem iria carregar a placa “Filma Nóis Galvão”?
O Bitoca tava com a corneta, o Zé Luís tinha problema de coluna e o Pudim, praticante amador de vale-tudo, precisava das mãos livres pro caso de ter uma confusão. O resto da galera estava comprometido com o bandeirão. A solução foi fazer uma vaquinha e pagar uma entrada para o Joca, que vivia duro e ia acompanhar a partida pela TV. O Bernardo foi escalado para ir buscar o Joca em casa.
Chegaram às duas horas no Estádio Mané Garrincha e a fila já estava imensa. E, no ritmo que estava andando, a turma ia dar sorte se entrassem no segundo tempo. Isso comprometeria toda a estratégia do grupo. Sem alternativas, acionaram o Pudim para intimidar o primeiro da fila. O Genésio disse que ameaçar “enfiar o nariz para dentro do cérebro” era uma atitude antiética. O Siri falou que o Genésio e a ética dele podiam ir pro final da fila, se ele quisesse. O Genésio ficou calado e, então, devidamente autorizado a usar força letal, se necessário, o Pudim partiu para negociar a entrada.
E nada do Bernardo e do Joca.
Entraram, instalaram o bandeirão, molharam a mão do ambulante da cerveja para garantir o fornecimento constante e esperaram a partida começar.
E nada do Bernardo e do Joca.
Foi só quando a Daniela Mercury tava cantando o Hino Nacional, em descompasso total com a galera, que o Bernardo e o Joca chegaram. As explicações só puderam ser dadas na segunda parte do Hino, pois, como ninguém sabia a letra, o estádio ficou mais silencioso.
— Que trabalhão! O Joca não estava em casa.
— Pois é, eu tava no motel com a patroa. Ia assistir o jogo lá, fazer uma social... Ainda bem que deixei o celular ligado, senão o Bernardo não me achava.
— E a patroa, não ficou brava?
— Quando acordar, vai ficar.
Esse era o Joca! Fugiu do Motel enquanto a esposa estava dormindo, só pra ver o jogo do Brasil.Daí em diante foi só festa. O Cabeção puxou o coro de “viadinho” quando o Latino entrou para cantar no intervalo e a Seleção deu de cinco a zero no Chile. Os preparativos da turma do Siri para a viagem à Alemanha já começaram. O Bigode ficou de arrumar o ônibus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário