segunda-feira, 6 de março de 2006

Especial Oscar 2006

Não é segredo para ninguém que o Oscar é uma cerimônia criada pela indústria do cinema para perpetuar a indústria do cinema. Uma orgia de lobby, dinheiro, vaidade e futilidade. É o capitalismo fazendo um bundalelê para o comunismo e dizendo “eu venci”. Isso não muda o fato que ainda trata sobre cinema e que cinema ainda é arte. Os pingüins franceses e a surpresa da noite, Crash, que o digam. Outra surpresa, que mostra que o conceito de arte evolui (ou, pelo menos, muda) foi a vitória do rap na categoria de melhor música.

O melhor momento do Oscar foi a entrega do prêmio honorário a Robert Altman, um dos poucos diretores ainda vivos dignos do título de cineasta. Seu discurso foi, ao mesmo tempo, doce, ácido e comovente. Cheio de nuances e camadas como os filmes do próprio diretor. Destaque especial para a apresentação do prêmio, feita por Meryl Sreep e Lily Tomlin – inesquecível.

Paradoxal e idiossincrática, a cerimônia deste ano estava politicamente correta. O discurso de Michael Moore que escandalizou metade da platéia há dois anos atrás estaria mais apropriado neste ano – o que prova duas coisas. A primeira, que Moore já estava correto há dois anos atrás e a segunda, mais sutil, é que o capitalismo é implacável e transforma tudo em negócio, até mesmo as causas políticas e sociais com rapidez e eficiência – o movimento hippie que o diga.

Mas foi uma cerimônia mais transparente que outras. Os próprios organizadores fizeram piada com o lobby necessário para se criar um ganhador. O que não estava tão transparente, para minha infelicidade, foi o vestido das gostosas. Aliás, não me incomodaria em ver a Jessica Alba e a loirinha do Orgulho e Preconceito sem vestido algum.

Em um surto súbito de honestidade, encerro meus comentários sobre o Oscar declarando minha inveja do George Clooney. Ser bonitão, famoso, milionário e respeitado é até normal na turma que ele anda, mas ele foi além. Uma moça que ganhou um Oscar sei lá de quê, em vez de agradecer papai e mamãe, agradeceu à organização do evento por tê-la colocado sentada ao lado de George Clooney no jantar. Ou seja, a mulher ganhou um Oscar, mas importante mesmo foi ter sentado ao lado do cara. Moral é isso.

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