quinta-feira, 2 de abril de 2009

Como é que é?

Um dia desses... Mais precisamente, dia 6 de abril de 1.988... O quê? Tenho culpa se minha memória é boa? Enfim, um dia desses ouvi um comentário que me chamou a atenção. Era uma aula de história e o tema era escravatura: os índios brasileiros eram preguiçosos e indisciplinados; eles não se adaptaram à escravidão.

Vinte anos depois, não sei se por maturidade cultural ou falta do que fazer, me peguei pensando: mas alguém se adapta à escravidão? Alguém se acostuma a ser sacaneado? Os africanos eram mais aptos à escravidão? Mandavam currículo, por acaso? Faziam psicotécnico?

É claro que alguém que recebe uma paulada na cabeça todo dia pode não revidar, por falta de coragem, oportunidade ou alternativa. Mas isso não significa que a pessoa goste, que esteja adaptada! Provavelmente, quanto menor o revide, maior será o sentimento de vingança, revolta e angústia. Mais: havia um tom meio pejorativo na fala do professor (sim, eu me lembro do tom pejorativo), como se fosse demérito do índio ser mais indolente quanto à escravidão. Pô! Não tá vendo o negão aqui dando um duro danado? Ele também tá na mesma situação que você e não reclama! Não reclamava provavelmente porque não sabia falar português e porque, se fugisse, ia voltar pra casa como? A nado? Sem contar que o que teve de revolta negra não foi bolinho, mostrando que adaptados à situação estavam só mesmo os senhores de engenho e sua curriola agregada.

Em minha opinião, o sacaneado tem direito à revolta, à indisciplina e à inconformidade. Já o sacaneante (ou sacaneador, como queiram, já que as duas palavras não existem) não deve nem fazer bico, nem se sentir injustiçado. E que vá para a Casa do C*%*&ho aquele que resolve julgar o sacaneado, índio ou qualquer outro, pela sua reação e não pelo que foi feito com ele.

Rapaz, foi bom desabafar! Faz vinte anos que eu tava com esse troço por aqui, ó. Por aqui!

Um comentário:

  1. Que engraçado... eu tive a mesma aula, com o mesmo tom pejorativo, la pro meio de maio de 1991... era uma quinta feira, dia ensolarado (isso aqui eu inventei! ficar atraz nos detalhes é que eu não vou, né?). Sera que era o mesmo professor? Acho que não. Em primeiro lugar, a minha era professora (a não ser que tenha mudado de sexo, o que explicaria essa ma atitude sobre a adaptação alheia...). Em segundo lugar, estavamos em cidades diferentes. Proximas, mas diferentes. Em todo caso, a formação que os dois receberam foi a mesma. O que eu me pergunto é o seguinte. Nos que, na época éramos crianças, e, por definição, não conheciamos nada do mundo, temos essa desculpa para "acreditar" nesse absurdo... qual seria a desculpa desses professores? Na idade deles, não seria natural achar isso o cumulo do absurdo? So desabafarei mesmo quando ela me responder isso...

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