segunda-feira, 27 de abril de 2009

Realidade alternativa

A primeira vez que bati os olhos no Big Brother decidi que era contra qualquer reality show. Depois, com o tempo, vi que eu era somente contra a degradação do ser humano para o divertimento dos outros e que, pelo mesmo motivo, nunca fui muito fã de show de calouros, Cidade Alerta e outros programas do tipo. Essa é a minha opinião atual sobre alguns realities, que pode mudar antes mesmo d'eu terminar de escrever.

Um aviso: tenho muitos amigos que adoram reality shows e isso não é uma crítica pessoal a vocês. Primeiro porque sou completamente idiossincrático e não tenho nada contra quem assiste. Segundo, porque o que escrevo a seguir é só minha opinião, que provavelmente está errada. Mas acho que não custa à gente refletir um pouco sobre o nosso entretenimento de vez em quando.

1. Big Brother – acho terrível. O programa não tem nenhuma contribuição cultural ou social (a não ser para o vencedor – e mesmo assim questionável). É um voyeurismo alugado e, embora as pessoas ali se disponham a isso, o fazem mais por conta do nosso culto ao sucesso que por qualquer outra coisa. Acho triste ter a audiência que tem, embora entenda seu apelo.

2. O Aprendiz – pra mim, é ainda pior que o Big Brother, porque usa a desculpa de um pseudo-profissionalismo para humilhar ainda mais as pessoas que participam. Sim, no mercado existem chefes babacas, mas não são todos e, nem de longe, os mais perigosos. Quem está ali para satisfazer o ego do Trump e do Justus não vai aprender nenhuma lição profissional importante – a não ser agüentar calado tudo o que seu superior te diz. Tá, essa é uma lição importante, mas você entendeu o que eu quis dizer. A versão com celebridades é um pouco melhor, já que elas estão, ao menos, acostumadas com a exposição na mídia (e os caras são mais engraçados), mas não vou bloquear minha agenda pra assistir, não.

3. Extreme make-over – a série começou com mudanças radicais na aparência de pessoas o que, a princípio (e em princípio), sou a favor, mas o sensacionalismo barato e a insistência em um modelo de beleza padrão, diminuía o valor social da produção em 20 (numa escala de zero a dez). Aí alguém teve a sensacional idéia de fazer um make-over em residências de pessoas necessitadas. Botaram um produtor de primeira, uma equipe envolvida, competente e engraçada e o programa é emocionante, interessante e tem como produto final uma benesse inacreditável para uma família. O Luciano Huck copiou e eu nunca vi a cópia, que me parece um pouco mais apelativa, mas ainda assim vale. O benefício final compensa. Gosto muito, já assisti e me emocionei.

4. Queer Eye for The Straight Guy – Os gays que ajudam um cara hetero a ficar menos brega e na moda (sair das cavernas) são divertidos e bem reais. O programa elimina preconceitos e diverte. É meio repetitivo, mas assisti de vez em quando e gostei.

5. Miami Ink – Estranho. A idéia é vender que tatuagem é arte e que cara tatuado não é necessariamente um bandido violento. Funciona até certo ponto, porque mostra toda uma cultura de um ponto de vista diferente. Mas, honestamente, é mais uma curiosidade que qualquer outra coisa. Assista uma vez e nunca mais. Mas imagino que possa ter uma identificação com outro público.

6. Os vários de carro e moto – Também montados em função de um nicho de público (maior que os dos tatuados) e também copiados pelo Luciano Huck. As cenas de novela, que mostram as discussões entre os especialistas são dispensáveis em minha humilde opinião, mas sei que tem gente que assiste justamente por isso. Poderiam ser mais focados nos carros pois são interessantes o suficiente pra isso.

7. Nerds e Patricinhas – Foi um dos momentos mais impressionantes da TV em minha opinião. Apelação total e, apesar disso, estranhamente cativante pelo enorme respeito que os participantes mostraram uns pelos outros. O apresentador tentou criar conflito o tempo todo, mas os nerds faziam questão de parabenizar os competidores e elogiar a beleza das meninas e, as meninas, genuinamente impressionadas com a inteligência dos nerds, também eram estranhamente simpáticas. Freak total – só é bom porque deu errado – fiquei com a impressão que os produtores queriam uma dinâmica diferente para o programa, mas a galera era muito tranqüila pra baixaria.

8. American Idol – A parte de seleção, embora eventualmente divertida, é um verdadeiro show de horrores e de humilhação. Não gosto e me incomoda, embora, confesso, ache muito engraçado algumas figuras que aparecem. A parte de exibição é muito legal. Os cantores têm um nível muito alto, os arranjos são muitas vezes bem bolados e os comentários do Randy são excelentes. Até o mau-humor do Simon é engraçado (não tanto quanto ele próprio acha, mas...). Poderia ficar sem a parte da novelinha e o tom sentimentalista ao extremo dos vídeos pessoais. Os vídeos dos ensaios são ótimos. Gosto. As cópias nacionais foram abaixo da média – menos qualidade musical e muito mais drama barato. Achei horríveis.

9. Top Model – Americana ou brasileira, tanto faz. Legal para as meninas – é uma oportunidade. Bem de nicho e um pouco exagerado (como todos os outros), mas me parece até mais profissional que os outros similares. As dicas e as tarefas são bem vinculadas ao universo da moda, mas poderíamos viver sem. Eu, pelo menos, poderia. Se bem que eu assistiria se tirassem a novelinha (as discussões, as fofocas, as cenas na "casa". Inclusive todos esses reality shows seriam melhores se não tivessem "casa" nenhuma, se fosse cada um pro seu canto depois das filmagens. Dentro dessa dinâmica o Big Brother, que só tem a "casa", acabaria. Lucro).

10. Os de cozinha – Poderia dizer que era mais um programa para público específico, mas não serei tão bondoso. O aspecto culinário é completamente secundário e os programas são todos embasados no mau-humor de um mestre-cuca ou de uma banca de jurados. Os prêmios são ótimos para quem participa, mas, assim como O Aprendiz, existem principalmente para inflar o ego de determinadas pessoas. Acho isso de baixo nível e desnecessário. O programa valoriza qualidades como arrogância, agressividade, falta de respeito, oportunismo (que é diferente de senso de oportunidade) e ganância (os mesmos princípios do Aprendiz). Nos de tatuagem e de carro o sonho e a qualidade profissional têm mais evidência. Nesse, os participantes são tratados como um bando de imbecis que estão tendo a honra de beijar os pés de um gostosão da mídia. Escroto.

11. Garota FX – um pretexto absurdo para objetificar as mulheres. As moças gostosas ficam à disposição de três juízes machistas que criam as provas mais humilhantes possíveis. A idéia é exibir o corpo das mulheres e mergulhar em diálogos fúteis e piadas machistas de terceira categoria. É o fundo do poço. Não perco um.

12. Os de encontros e casamentos – Me retifico. O fim do poço é aqui. Tem até um bem específico pra achar uma garota roqueira para o Brent Michaels. Terrível. O da Garota FX é escandalosamente machista e sabe disso. Trata-se de uma piada (infelizmente, as meninas que participam não sabem disso e levam a sério o negócio – o que é a nota deprimente do programa). O do Brent Michaels é machista e doente. Esses outros programas usam a solidão e a angústia humana como combustível. Acho triste e absolutamente aviltante.

13. Os de animais – Me retifico. O fim do poço é aqui. Cãobelereiros poderia até dar um documentário divertido, mas reality show não dá. Desespero de quem produz e de quem assiste.

14. E tem mais: os de salão de beleza, de swingers, de estrelas do mundo pornô, de sobrevivência na selva (tem um doido que pula de pára-quedas no meio da África e tem que sair de lá só com uma mochila), o que acompanha um navio do Green Peace (que quer afundar os baleeiros japoneses), um de uma velha (o qual não quis nem saber do que se tratava) , o das babás (também copiado no Brasil e até útil, mas não precisava de formato de reality show), mas esses estão abaixo do fundo do poço.

Mas, só para constar, acho todos eles melhores que o Big Brother, que está em primeiro na lista só por ser o mais famoso e por ser o responsável por todo esse absurdo televisivo. Detalhe: sou a favor do entretenimento de baixo valor cultural, pois, na hora de se divertir, às vezes é legal não pensar em nada mesmo, mas sou contra entretenimento de valor cultural negativo, no qual enquadro o Big Brother, o Teletubies e o Galvão Bueno.

2 comentários:

  1. menino, me explica uma coisa: onde você descobriu tantos reality shows? aliás, duas coisas: como você consegue assistir a tudo isso?
    beijos... pra vc, pra flávia e pra bia...

    ResponderExcluir
  2. Assistir mesmo, só assisto o da Garota FX (brincadeira), o resto é informação inútil que acumulo pelos poros. Sou ótimo nisso.

    ResponderExcluir