domingo, 7 de agosto de 2005

Buterflái

Múcio Bortolini (o nome verdadeiro dele não é esse) fez o que não devia. Depois de uma rodada de sexo morno com a esposa, perguntou para ela se havia sido bom. A mulher, que andava distraída, preocupada com aquelas coisas que normalmente preocupam as mulheres, teve um ataque de sinceridade e respondeu:
— Foi...
A sinceridade, claro, não estava na resposta, estava nas reticências. A esposa do Múcio era assim: dizia muito mais quando não dizia nada. Múcio sentiu um arrepio na nuca e ameaçou fugir da cama, alegando que ia tomar um banho, mas a esposa foi mais rápida e continuou a frase antes que ele pudesse agir.
—... Mas da próxima vez a gente podia tentar algo diferente...
— Diferente? Como assim?
— Você sabe... Diferente.
Ele não sabia. Como poderia saber? Diferente é um termo muito amplo, especialmente para o que se faz entre quatro paredes. Múcio tinha um primo que uma vez tentou algo diferente com a esposa e ficou meio esquisito por uns tempos. Muito sério, com o olhar distante... E ele nunca explicou direito o que havia acontecido.
— Me surpreenda – disse, finalmente, a mulher, com um sorriso maroto que poderia significar qualquer coisa.
Naquela noite, Múcio não pregou o olho.
No dia seguinte, resolveu que não pediria ajuda a nenhum amigo, pois já havia tido uma experiência infeliz nessa área (veja a crônica Haste), mas que consultaria um profissional. Foi a um sex shop.
— Boa tarde – disse, timidamente, à atendente no balcão. Uma moça bonita, de uns vinte anos.
— Boa Tarde! Em que posso ajudá-lo?
— Eu estava procurando alguma coisa diferente – tentou Múcio, na esperança de que a palavra diferente fosse, na verdade, um código secreto entre as mulheres para uma coisa bem específica. Não era.
— Bom... Chegou hoje pra mim essa roupa do Batman, que tem um zíper superprático...
— Sei...
—... Na parte de trás da sunga...
— Não, não, não. Menos diferente, por favor. Bem menos.
— Ajudaria se o senhor me dissesse o que tem em mente.
Múcio não tinha nada em mente. Proibiu o próprio cérebro de divagar sobre o assunto, com medo de onde poderia parar. Só tinha certeza de que não queria nada que envolvesse manteiga ou outras pessoas.
— Algo que faça a minha mulher feliz – disse, sentindo-se altruísta.
— Ah! Bom, temos aqui o Extríme Pínis, Pínis é Pênis, em inglês. Ele tem trinta centímetros de altura, dez de diâmetro, quatro velocidades, textura real e já vem com pilha.
O objeto parecia mais uma arma que uma prótese. Era intimidador. Além do mais, não tinha certeza de até onde o conceito de diferente da mulher poderia se estender e achou mais prudente não ficar pelado próximo de um objeto daqueles.
— Talvez algo menos extríme. Algo mais delicado.
Os olhos da mulher brilharam:
— Tenho exatamente o que o senhor está procurando: o buterflái.
— Buterflái?
— Borboleta, em inglês.
Voltou para casa com o objeto que parecia um amendoim avantajado. Naquela noite, a esposa do Múcio viu estrelas. Mais que isso, viu constelações. Missão cumprida, apesar de tudo, sem maiores incidentes. Quer dizer...
— Múcio, querido! Você realmente me surpreendeu. Pra quem nunca usou um aparelhinho na cama, você manipulou o buterflái como um mestre...
— Foi fácil – respondeu Múcio, orgulhoso. — Passei a tarde inteira treinando com a moça da loja. Ela me mostrou todos os pontos sensíveis...
Ele não conseguiu terminar a frase. Não deu nem tempo de explicar que foi em um modelo de vagina de borracha. Dormiu no sofá por uma semana. Quase deu separação.Moral da história: Nunca fale para a sua esposa que você treina o que faz com ela com outra mulher. Mesmo que a outra mulher esteja agindo profissionalmente.

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