segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Casamento

Não é raro encontrar um certo ar de arrependimento nas pessoas casadas. Não estou falando do arrependimento verdadeiro, que é acompanhado de brigas, desilusões e pensão alimentícia, mas de um arrependimento tímido, diluído. Algo parecido como quando pedimos um prato no restaurante e achamos delicioso – até vermos o prato que veio para a mesa do vizinho.
É isso. Um desejo incontrolável pelo que poderia ter sido. Uma mulher mais interessada em informática, um marido menos barrigudo, um filho a menos, um filho a mais. A mesma mulher – mas com outra sogra. O mesmo marido – sem a coleção da Playboy. Detalhes, como o cominho que veio no seu prato. Nada contra, mas se fosse a pimenta de cheiro do prato da mesa ao lado...
Essas coisas podem até passar pela nossa cabeça, mas não são impedimentos para quem está determinado a amar. Quem vive angustiado por estes detalhes ainda não entendeu o espírito da coisa. Ainda confunde paixão com amor. Paixão é fúria e impulso. Amar é uma decisão. Quem casa movido apenas pela paixão é como a pessoa que dá um chegue sem fundo. Fez sem pensar – e vai ter problemas mais tarde, a não ser que algo inesperado aconteça.
Não me entenda mal, a paixão é absolutamente necessária para alguém declarar que viveu. Mas o amor, a decisão consciente de amar, esta também precisa ser compreendida.
Paixão é de graça. Amar custa tempo e dinheiro. A paixão é que é cega, quem está apaixonado não vê os defeitos do outro. Quem ama, não só vê os defeitos, como ainda tem que aprender a perdoar as falhas do outro. Quem está apaixonado está tão descontrolado que freqüentemente acredita que está amando e confunde as duas coisas. Mas o amor é inconfundível. Quem está amando não tem dúvida sobre o seu sentimento.
O único problema é que, ao contrário do que diz o poeta (não o Vinícius, claro), não é eterno, ou, se preferirem, só é eterno enquanto dura. O amor precisa ser renovado com gestos, com ações, com renúncias, com palavras e silêncios. É como eu disse antes: dá trabalho.
Mas cuidado: a paixão não pode e nem deve ser menosprezada, ela é um dos principais ingredientes do amor renovado. Amar, sem, paixão, não tem a menor graça.
Quanto a mim, faço sete anos de casado neste mês e não tenho arrependimentos. Nem grandes, nem pequenos. Tive a sorte de encontrar alguém que se esforça para me amar. E que, provavelmente, jogaria seu prato na minha cabeça se eu olhasse para a mesa do vizinho.

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