quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Haste

Múcio Bortolini (o nome verdadeiro dele não é esse) acordou um dia com uma veia do pinto saltada. Isso mesmo, não dá para fazer rodeios com um assunto desses. Estava lá, o pinto relaxado, em posição de bambu tombado pelo vento, e a veia estufada, protuberante, alienígena.
Preocupado, consultou a esposa, que o convenceu a procurar o médico com um argumento simples:
— Com o pinto assim, nem pensar.
— Mas...
— De jeito nenhum. Pode ser um tumor contagioso.
Com a perspectiva de uma greve de sexo e de ter o primeiro câncer infecto-contagioso da história da humanidade, não teve alternativa. Foi ao médico.
O Doutor, um sujeito sombrio e taciturno, debruçou-se sobre o... Problema e avaliou o pênis do rapaz metodicamente. E, enquanto observava, começou a inquirir Múcio (o nome verdadeiro dele não é esse):
— Você fuma? Bebe? Pratica esportes?
— Sim. Quer dizer, não. Não bebo enquanto pratico esportes. Quer dizer... – Múcio (o nome verdadeiro dele não é esse) estava nervoso. Você também estaria.
— Quando foi que isso apareceu?
— Hoje pela manhã.
— E por que não veio antes?
— Antes? Meu Deus! É grave?
— Vamos precisar aprofundar a investigação.
— Aiaiaiai. Como assim, aprofundar? Não, não me diga! Não quero saber!
— Não posso dizer nada sem antes uma ecografia da haste peniana.
— Hã?
O caso pedia uma ecografia da haste peniana. Múcio (o nome verdadeiro dele não é esse) estava desorientado, preocupado com sua haste peniana. E pinto era lugar para veia se manifestar, assim, sem mais nem menos? Por que não foi um aneurisma? “Se meu pinto morrer, eu vou junto” – pensava. Via o pinto como um amigo. Quem pode censurá-lo?
Mas nem tudo estava perdido. Tinha um amigo, o Montgomery (o nome verdadeiro dele não é esse), que vinha de uma longa linha de radiologistas e ecografistas (esta especialidade, eu inventei). O avô, o pai e o irmão. Se era para realizar um exame tão delicado, melhor se fosse um camarada.
— O que houve, Múcio? Você parecia preocupado ao telefone, quando pediu para que viesse encontrá-lo.
— Você é meu amigo, certo?
— Claro. Pro que der e vier. Você sabe disso. Está precisando de dinheiro?— Não, não...
— Brigou com a esposa? Se quiser ficar um tempo lá em casa...
— Não...
— Fale logo o que é. Você pode contar comigo. Qualquer coisa. Pro que der e vier.— É um exame que preciso fazer... Uma ecografia...
— Claro... Com o maior prazer.
— ... Da haste peniana.
Montgomery (o nome verdadeiro, etc.) ficou em silêncio. Depois de alguns momentos, muito sério, respondeu:
— Isso eu não faço.
— Não? E seu irmão?
— Meu irmão também não vai fazer. E nem meu pai.
— E seu avô?
— Já morreu, mas também não faria. Pô, isso é coisa que se peça?
— Eu não conto pra ninguém...
— Tá me estranhando? Eu... Olha... Preciso ir...
— Sei.
— Olha, não leva a mal, não é minha especialidade. Porra! Eu tenho cara de quem faz ecografia de haste peniana?
— Você é médico. Pelo menos conhece alguém que faz? Pode me indicar...
— Pode parar senão a gente perde a amizade. Nunca me relacionei com ninguém que faça esse tipo de coisa.
— Tá. Já entendi. A gente se fala neste final de semana...
— Vou ter compromisso.
Múcio (o nome... você já entendeu) acabou realizando sua ecografia com um anônimo e acabou descobrindo que a veia saltada era, afinal, apenas uma veia saltada e mais nada, mas seu relacionamento com Montgomery nunca mais foi o mesmo.
Moral da história: se quiser manter uma amizade, não peça para seu amigo pegar no seu pinto. Nem mesmo profissionalmente.

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