terça-feira, 18 de março de 2008

Escrevendo

Toda vez que escrevo para adolescentes recebo as mesmas críticas: "o vocabulário está muito elaborado", "os adolescentes não falam assim", etc.

Bem, em minha defesa, só posso dizer que procuro escrever para os adolescentes – e não como se fosse um adolescente. Dos meus quinze anos pra cá, meu vocabulário claramente aumentou, e isso só aconteceu porque li livros onde os personagens falavam de forma elaborada e inteligente. Isso me motivou a procurar escrever de forma elaborada e inteligente (nem sempre com sucesso, obviamente).

Inclusive, muitos desses livros e gibis eram feitos para adolescentes. No livro O Gênio do Crime, um dos sucessos mais perenes da literatura infanto-juvenil brasileira (mais de um milhão de cópias vendidas), João Carlos Marinho faz uma alusão ao tráfico de drogas usando o tráfico de figurinhas de futebol como exemplo. Seus personagens não usam gíria (nem os bandidos) e me lembro claramente de, por causa desse livro, ter ido procurar no dicionário o significado da palavra "inescrutável", que, na época, me pareceu, bem, inescrutável.

Outra experiência marcante foi o gibi da Marvel e da DC no qual os personagens das duas editoras se fundiam (a mistura do Batman com o Wolverine se chamava Garra Noturna). O nome da série? Amálgama. Lembro do meu pai me explicando o significado dessa palavra, depois de pedir próxima para ler o gibi.

Outros motivos que me levam a dosar onde coloco a gíria e onde relaxo um pouco na escrita são puramente técnicos. Tem a ver com facilitar o entendimento da história (usar a palavra certa, em vez de um sinônimo simplificado pode fazer diferença), ritmo (ler "véi" no final de cada frase é tão chato quanto ouvir), conveniência (escrever exatamente como falamos é algo que requer espaço. Brian Michael Bendis faz isso nos quadrinhos e suas Graphic Novels têm mais de 200 páginas) e, por último, estilo (gosto de estimular os neurônios de quem está lendo).

Além disso, não tem nada mais ridículo que um cara de trinta e tantos anos tentando ser adolescente, mesmo que seja só escrevendo.

Dito isso, acho importante, ao escrever para quem ainda não desenvolveu o hábito da leitura (em qualquer idade), que o nível de complexidade não seja muito intenso, que o texto seja curto e que a história faça um elo com o universo cognitivo do leitor.

E que, ao escrever para jovens, especificamente, as idéias permaneçam frescas, ousadas e bem-humoradas, independentemente de estilo.

Mas isso é só minha opinião. E tanto eu quanto minha opinião já estivemos errados antes.

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