sábado, 1 de março de 2008

Desconfiômetro

O que você faria se recebesse o crédito por algo que não fez? Em maior ou em menor escala, isso já deve ter acontecido em sua vida. É bem possível que você já tenha recebido um "parabéns", um "muito obrigado" ou um elogio completamente inapropriado. E o que você fez na ocasião? O que faria agora?

O mais tentador, obviamente, é não desfazer o mal entendido. É o tal do equilíbrio universal, certo? Afinal, de vez em quando também levamos a culpa por algo que não fizemos, então uma coisa equilibra a outra e vamos em frente.

Mas eu penso diferente. Para mim, o maior problema nessas situações é que quem realmente merece reconhecimento acaba não sendo lembrado. Ser elogiado por conta de uma má interpretação dos fatos e não desfazer a confusão é um pouco como receber o troco errado (a mais) e não falar nada, é uma espécie de desonestidade passiva.

Mas, somos humanos e, como já foi dito antes com muita propriedade, a vaidade é o pecado preferido do diabo. Lembro de uma vez, há muitos anos atrás, que participei de uma competição entre escolas sobre a obra de Monteiro Lobato. O formato era parecido com o daqueles programas de auditório de perguntas e respostas e chegamos à final da competição graças ao meu companheiro, que sabia tudo, mas era um pouco tímido. Para quem observava de fora, parecia que estávamos confabulando a cada pergunta que nos era feita, quando, na verdade, ele me dizia a resposta e eu apenas a repetia, em voz alta.

Na última pergunta, eu realmente sabia a resposta e respondi confiante, assegurando a nossa vitória na competição. O pessoal da nossa escola invadiu a área e eu fui carregado nos braços da galera, com todo mundo gritando meu nome. E só o meu nome. Para piorar, quando falei ao microfone, na hora dos agradecimentos, que o mérito tinha sido todo do meu amigo, as pessoas ficaram ainda mais impressionadas comigo, achando que eu estava sendo humilde.

O tempo passou e a sensação de felicidade que senti no momento é um constrangimento que carrego comigo até hoje. Mas essas coisas acontecem e, às vezes, são inevitáveis. Mas o que me irrita mesmo é a pessoa que não só recebe o crédito pelo que não fez, como ainda acha que merece. É o tal do desconfiômetro quebrado, como dizia o meu pai.

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