quinta-feira, 27 de março de 2008

Impressões

Tenho um amigo que de vez em quando me liga. Até aí, normal.

Quando ele me liga, conversamos trivialidades e ele sempre me pergunta como estou e deixa claro que, qualquer coisa, ele está aí para me ajudar. Até aí, normal. Ou quase.

O que me incomodava nessas ligações era o fato dele se colocar à minha disposição, como se ele soubesse que eu estava com algum tipo de problema. E fiquei com isso na cabeça. Será que ele me acha uma pessoa problemática? Alguém que precisa constantemente de um ombro amigo? Ou haveria alguma outra coisa que estivesse gerando essa impressão? Algum amigo em comum que fosse meio fofoqueiro, talvez?

O fato é que, apesar da aparente intranqüilidade do meu amigo em relação à minha vida, a grande maioria das vezes em que ele me ligava, eu estava bem, sem nenhum problema maior à vista. E foi então que me toquei: ele lia o Ninguém Perguntou.

Bastava eu postar aqui algo um pouco mais reflexivo ou pessimista que ele passava a se preocupar comigo. E me ligava.

No passado, já falei por aqui que, como gosto de escrever em primeira pessoa, as pessoas tendem a achar que o que escrevo aqui é exatamente o que penso ou como me sinto, o que não é muito bem a verdade. Explico-me melhor: literatura é sempre a verdade, mas nem sempre é a minha verdade.

Posso estar feliz e escrever um texto triste, posso estar cansado e escrever um texto vibrante e posso até estar chateado e escrever um texto pessimista. Meu estado de espírito pode ou não combinar com o que escrevo. E o que escrevo pode ou não estar ligado a um momento pessoal. Mas eu não me preocupo com isso e seria difícil, até mesmo para mim, classificar quando meus textos são mais ou menos relacionados com minha própria vida (com algumas exceções óbvias).

Ocorreu-me que essa impressão que o Ninguém Perguntou deixava sobre meu amigo poderia estar acontecendo com outras pessoas. Por isso, deixo o esclarecimento (citando eu mesmo): o Ninguém Perguntou é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A não ser, é claro, que a carapuça sirva.

Agora, tenho um outro amigo que de vez em quando me liga quando passo muito tempo sem escrever. Esse me conhece!

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