Se o seu professor de Português foi bom, se você anda estudando pra concurso ou se você é meio esquisito e lê a gramática de vez em quando porque acha legal, deve lembrar-se do que é a função fática da linguagem. Se não lembra, eu explico: é quando a linguagem não serve pra nada, quando não comunica chongas, quando está presente apenas para abrir caminho pra comunicação de verdade. É a ante-sala do discurso, a entrada do banquete lingual, a preliminar da cópula comunicacional, o lubrificante para a introdução da mensagem, a... OK, chega, né? Por que será que minhas metáforas sempre acabam em sexo?
Vou dar até um exemplo que hoje estou de bons humores. O "oi, como vai?". Normalmente não estamos interessados em como a pessoa vai quando falamos isso. A frase serve apenas como introdução ao que queremos realmente dizer. Ninguém são chega falando imediatamente o que quer sem nenhum tipo de intróito. Socialmente, é importante que estabeleçamos contato antes de emitir a mensagem. Já pensou se você encontra um colega na rua que pára na sua frente e diz, simplesmente:
- Estou morando agora na 309 norte, meu telefone é 3325 55 63.
E vai embora sem dizer mais nada. Ninguém faz isso, certo? Bom, conheci um cara que fazia, mas ele também tinha a coleção completa de discos do Menudo. Enfim.
Então o como vai, o até logo, o tá quente hoje, o choveu e o hã-hã é tudo linguagem fática. Ou seja, utilizar a função fática de vez em quando, no começo e no final de sentenças é algo escandalosamente normal. E deixa implícita uma boa educação e um bom senso.
Porém, quando a pessoa te pergunta uma coisa e você responde outra, isso também pode ser considerado linguagem fática porque, afinal, não faz o menor sentido. Também é comum, mas bem menos desejável. Quando o discurso inteiro é fático, a pessoa é louca, distraída ou mal-intencionada.
Mas por que estou falando disso? Simples, porque hoje acordei com a impressão de que vivemos em um país fático, com um presidente fático, repleto de governantes fáticos. Mas deve ser só impressão.
Tchau.
Em cursos de negociação, feedback, gestão de pessoas, etc, isso é chamado de "rapoir", com biquinho francês e tudo... Mas gostei do ´"fático"... Milton
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