sexta-feira, 9 de março de 2007

Cacilda e Marilda

Rafaela e Fernanda são duas irmãs que, quando crianças, inventaram uma brincadeira chamada Cacilda e Marilda.

Aparentemente simples, a brincadeira tinha um pano de fundo impressionantemente bem elaborado e uma complexidade psicológica insuspeita. Consistia do seguinte: Cacilda e Marilda eram duas irmãs que, por circunstâncias do destino, não se viam há muito tempo. Ainda por influência do destino, Cacilda e Marilda encontram-se, por acaso, em uma rodoviária lotada. Em um canto da sala, Rafaela abria os braços e gritava, fingindo estar emocionada por rever a irmã:

— Cacilda!

No outro lado, Fernanda também gritava, com a voz falsamente embargada:

— Marilda!

As duas corriam uma em direção a outra, braços abertos e sorriso estampado no rosto. O reencontro das irmãs Cacilda e Marilda terminava com um longo e forte abraço, que normalmente desequilibrava as crianças e elas acabavam no chão, rindo muito.

Era isso. As irmãs brincavam de ser irmãs. Brincavam de destino, de saudade e de amar.

O tempo passou e o interesse pela brincadeira foi diminuindo. Certo dia, em tom de confidência, Fernanda revelou que não gostava muito de ser Cacilda e que, de vez em quando, desejava ser Marilda. Rafaela, surpresa, revelou que também não estava totalmente satisfeita em ser Marilda e que gostava mais do nome Cacilda.

— Vamos trocar? – Propôs Fernanda.

Rafaela refletiu por um momento e decidiu que, gostando ou não, não conseguiria mais deixar de ser Marilda.

— Acho que não...

— Marilda!

— Cacilda!

E as duas, já pré-adolescentes, abraçaram-se e rolaram pelo chão uma última vez.

O tempo continuou passando, como sempre faz, e Fernanda se mudou para outra cidade, onde cresceu profissionalmente e apaixonou-se. Marcou o casamento e convidou a irmã, Rafaela, para ser madrinha. As duas não se viam há cinco anos.

Foi no aeroporto, quando seus olhos se cruzaram mais uma vez depois de tanto tempo afastados, que Rafaela gritou, emocionada por rever a irmã:

— Cacilda!

— Marilda! – Respondeu Fernanda, com a voz verdadeiramente embargada.

E as duas se abraçaram. Um abraço carregado de lágrimas, de saudade e de infância.

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