terça-feira, 13 de março de 2007

Diálogos Íntimos

— Tá lendo o quê, hein? – Perguntou a Samira tentando espiar por cima dos ombros do Manfredo, que era fã de quadrinhos, mas que há tempos não conseguia um minuto para curtir seu hobby sem interrupções. Se não era o trabalho, era a Samira, que tinha nos seus hábitos de leitura a Caras e as receitas do site do Mais Você.

— Hn... – Resmungou o Manfredo, tentando desconversar. Mas a Samira estava sem nada para fazer e não iria desistir fácil assim.

— Eu perguntei o que você está lendo...

— É um gibi do Zorro.

— Ah, o Cavaleiro Solteirão.

— É Solitário, Samira, Cavaleiro Solitário!

— É a mesma coisa. No fundo, todo solteirão é solitário. Você não acha?

— Acho que a solidão é uma benção.

— O que você quer dizer com isso?

— Nada, Samira, nada. De qualquer maneira, a história não é desse Zorro. É do outro.

— Outro? Ah, sei, o índio. O Bobo.

— É Tonto, Samira, o nome do índio é Tonto.

— Tonto é o cara que se chama Cavaleiro Solitário e anda sempre acompanhado de um índio. Se é solitário não é para ter amigos, né?

— De qualquer maneira, não tem índio nessa história. Esse é um gibi do outro Zorro. O de capa e espada.

— Tem dois Zorros?

— Tem.

— Que coisa... Dois... Não tem nada de solitário mesmo...

Manfredo tentou não avnaçar a conversa, para ver se conseguia avançar na leitura. Mas a Samira já estava respirando sobre o seu pescoço e prestando atenção nos desenhos.

— Olha aqui! Olha aqui! – Gritou a Samira, fazendo o Manfredo dar um soluço de susto.

— Olha o quê, Samira?

— Você disse que não tinha índio! E esse aqui de bigode é o quê, hein?

— É um bandoleiro, Samira, um mexicano. Índio não tem bigode, meu Deus do céu. E nem usa sombreiro! Ô Samira, deixa eu ler meu gibi sossegado...

— Depois você diz que eu não me interesso pelas suas coisas...

— Mas eu quero que você se interesse, meu amor. Olha só, eu termino de ler e te empresto – aí você pode ler a revista depois, que tal?

— Sozinha?

— É, Samira, sozinha, sem interrupções. Que tal?

— Finalmente entendi o Zorro.

— Como assim, Samira?

— Entendi como é possível ser solitário mesmo estando acompanhado de outra pessoa.

O Manfredo repetiu para si mesmo várias vezes que aquilo era mais uma bobagem da Samira, mas a verdade é que não conseguiu dormir direito naquela noite.

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