sexta-feira, 6 de março de 2009

Esses humanos que circulam...

Hoje me contaram uma história engraçada que, obviamente, de engraçada não tinha nada: uma pessoa bem intencionada mandou um e-mail para um colega de trabalho com o intuito de dar "uns toques", umas dicas para que ele ficasse melhor aos olhos do chefe. O alvo da crítica irritou-se e conseguiu ler no e-mail apenas a pior mensagem possível: estava sendo acusado sumariamente de ser incompetente.

As pessoas fazem isso o tempo todo. Ouvem o que querem ouvir, lêem o que querem ler, entendem o que querem entender.

Quando a vaidade de alguém é atingida, há muito pouco espaço para a compreensão e o diálogo. Poucas pessoas sabem receber uma crítica e ainda menos gente é capaz de reconhecer um erro. Especialmente no ambiente de trabalho, temos a tendência de ser superdefensivos. Isso, até certo ponto é normal e em alguns casos necessário, mas pode facilmente ultrapassar a linha do bom senso.

Quem assiste ao seriado Battlestar Galactica sabe muito bem do que estou falando.

Notem que ao sair do tema "ambiente de trabalho" para falar de uma série de TV ambientada no espaço sideral, fiz um malabarismo literário. Assim chamado porque a lógica do texto fica precariamente equilibrada nas palavras do redator. Isso requer uma inteligência e habilidade que não tenho, mas a vida é curta, certo?

Battlestar Galactica é um seriado de ficção científica, muito mais de ficção do que científico, mas a verdade é que as naves espaciais e os efeitos são apenas pano de fundo para uma história sobre a condição humana. Sobre o nosso egoísmo e a nossa vaidade. Mas o interessante na série é o seguinte: dadas as circunstâncias extremas (a humanidade está à beira da extinção, com apenas quarenta e tantos mil sobreviventes), os personagens se vêem obrigados a perdoar uns aos outros o tempo todo.

Sua namorada te traiu? Você irá vê-la todos os dias com o outro e não pode evitar. Então, ou você perdoa ou fica louco. Fulano te deu dois tiros no peito? Chato, mas ele é o único que conhece as táticas militares do inimigo; você terá que falar com ele sempre, então é melhor fazer as pazes. Se duas pessoas ficarem trancadas em uma mesma sala por dez anos, essas pessoas vão se perdoar tantas vezes quanto vão se desentender, e o seriado usa essa premissa muito bem.

Por absoluta falta de alternativa, os personagens da série sempre se vêem forçados a pensar o melhor do outro, perdoar e a renovar a confiança no próximo.

Não é à toa que os Cylons (os "vilões" da série) são doidos para exterminar a espécie humana. Afinal, nossa raça nasceu com a capacidade de amar, mas só usa de vez em quando. Tremendo desperdício.

Um comentário:

  1. Alguém nesse seriado levou dois tiros no peito e ainda sobreviveu pra conversar com quem deu os tiros? "Ficção cientifica"... e põe ficção nisso... MDR

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