sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem que ser um milionário? Eu!

"Quem quer ser um Milionário?" usa um dos truques mais velhos do mundo para cativar a audiência: conta uma história que todos queremos ver. Um jovem pobre e de vida difícil pode ficar milionário da noite pro dia? Pode ter sua vida inteira transformada para melhor em um piscar de olhos?

Você vai ter que ver o filme para testemunhar o que realmente acontece, mas já adianto que eu vi o final a quilômetros de distância. Pareceu-me tão óbvio que achei que tinha adivinhado errado e montei outra história na minha cabeça. Mais absurda, mas também mais condizente com um filme ganhador do Oscar.

Não me entendam mal, o filme é bom, mas é que eu achei que pra ganhar o Oscar precisasse ser fenomenal. Eu ainda não assisti a todos os outros, então pode ser que comparativamente ele se salve, mas não acho que seja isso. Acho que a vitória do filme se deu mais pelo momento político dos Estados Unidos e pela situação econômica da Índia que por méritos próprios. Teve também um pouco da inteligência do diretor (Danny Boyle) que soube correr os riscos certos.

A fotografia é totalmente chupada do Cidade de Deus, os filmes se parecem tanto não só por causa da ambientação (favela, pobreza, etc), mas porque esteticamente são muito similares, especialmente no enquadramento e na edição. Bom, se vai copiar, melhor fazer de alguém que já foi indicado ao Oscar nas mesmas categorias, né? O filme do Clint Eastwood (A Troca) tinha uma fotografia mais inteligente e inesperada. Mas talvez o truque tenha sido fugir do padrão estético de Hollywood – pareceu original.

O elenco é canastrão, mas simpático. O ator principal encarna um personagem genuinamente interessante, de forma comprometida e envolvente. As versões mirim e adolescente dele também são boas. Mas o restante é um Deus nos acuda. Mas dá certo. De alguma forma, a simplicidade da interpretação transmite a simplicidade dos personagens.

A história é banal, previsível e cheia de clichês, mas não é à toa que novelas até hoje fazem sucesso.

O que me cativou no filme foi a homenagem que Boyle faz ao cinema indiano (a Bollywood), que tem qualidade sofrível, mas é esforçado. O filme não é um retrato da Índia, mas é um bom retrato do cinema indiano. É também um bom exemplo da eficiência do processo de industrialização americano (ou multinacional já que a produção é mista). Pegam o cinema indiano, mergulham em um balde cheio de Hollywwod, tiram o excesso, jogam uma pitada da estética latino-americana e – caceta – um Oscar!

Mas há muito que se comemorar por trás do prêmio. "Quem quer ser um Milionário?" é um charlatão, mas um charlatão bem intencionado e que vai abrir portas para o cinema independente no futuro. Exatamente, claro, o que Hollywood quer neste momento de recessão: valorizar produções baratas de elenco desconhecido. Ganha o público, que leva um pouco de variedade pra casa, ganha a indústria, que mexe menos no próprio bolso.

Acho que "Quem quer ser um Milionário?" é muito mais uma peça no quebra-cabeça da economia mundial que o melhor filme do ano. Como cinema, tem filmes mais interessantes por aí.

Mas e aí? É bom? Claro que é. Assista.

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