segunda-feira, 9 de março de 2009

Luz

O cara brilhante é aquele que tem idéias próprias e trabalha melhor sozinho – ele não faz parte da equipe, ele lidera e inspira a equipe. Ele não faz o que os outros fazem, ele não pensa como os outros pensam, ele não age como os outros esperam que ele agiria. Freqüentemente, todos pensam que ele está errado, mas isso é só porque não conseguem ver o que o cara brilhante vê. O cara brilhante vê mais que todo mundo, ele é a fonte da luz e põe o foco onde ele quiser. O cara brilhante só não consegue voltar a luz para dentro de si mesmo. Ele desconhece seus limites até que eles sejam superados, ele desconhece seus sentimentos até que os sinta intensamente. O cara brilhante será descartado quando sua luz se apagar.

Já o cara iluminado é aquele sujeito comum que estava no lugar certo, na hora certa. A luz bateu sobre ele no momento mais oportuno. Tratava-se do famoso mais um que, por algum motivo que nada tem a ver com ele (uma luz vinda sei lá de onde sobre sua cabeça) chamou a atenção dos outros. Ele pode até ser competente, pode até ser charmoso, pode até saber de cor o Hino da Bandeira, mas o que faz ele diferente dos outros não é ele – é a sorte dele.

Diferente do cara brilhante, o cara iluminado aproxima as pessoas, para que fiquem todos juntos debaixo do foco de luz que paira sobre sua cabeça. O cara iluminado é simpático e bonachão. Ele está feliz consigo mesmo porque ele já alcançou mais do que poderia almejar. Já o cara brilhante é um eterno insatisfeito, sempre em busca do próximo desafio, consumido pela vontade de fazer mais e de fazer melhor.

O cara brilhante precisa estar sempre certo. O cara iluminado pode até estar errado que todos vão concordar com ele. O cara brilhante tem a mulher que sempre sonhou (ele trabalhou pra isso). O cara iluminado tem a mulher que os outros sempre sonharam (como esse cara é sortudo!).

O cara brilhante será lembrado depois de morto por pessoas que nunca o conheceram pessoalmente. O cara iluminado será esquecido – mas viverá muito mais. E não existe nada que impeça que o cara brilhante e o cara iluminado sejam a mesma pessoa.


 

Conheci uma pessoa que, certa vez, disse que eu era absolutamente brilhante. Ciente do ônus e bônus do adjetivo, agradeci relutantemente. Mas a parte interessante da história é que algum tempo depois, tive a oportunidade de fazer algumas observações sobre essa pessoa para ela própria. Ela, obviamente discordou de todas as minhas críticas, apesar de ter aceitado alguns dos elogios.

Fiquei diante das seguintes hipóteses:

1. Ela nunca me considerou brilhante coisa nenhuma e falou isso inicialmente apenas para me agradar. Trata-se de uma pessoa insegura ou falsa.

2. Ela realmente acha que sou brilhante e que estou errado apenas sobre o que penso a respeito especificamente dela, sendo que sou mais perspicaz em relação a todo o resto. Trata-se, portanto, de uma pessoa arrogante que tem dificuldades de aceitar críticas.

3. Para ela, eu deixei de ser brilhante a partir do momento que discordei da visão que tinha de si própria. Trata-se de uma pessoa perigosa, cuja opinião está mais ligada à circunstância que a um fato.

4. Todas as anteriores.

Moral: a luz das pessoas brilhantes é igual à qualquer outra: útil quando ilumina o ambiente e desagradável quando vai direto nos olhos – especialmente para quem não tem o hábito de encarar as pessoas de frente, independentemente do brilho. Já o cara iluminado, não incomoda ninguém.


 

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