quinta-feira, 19 de março de 2009

Teclando

Existe algum instrumento musical mais ridículo que o teclado sintetizador? Se você é uma pessoa razoável, já sabe que a resposta é não, não existe. Na verdade, mesmo que você não seja razoável é bem possível que concorde com essa afirmação, o único tipo de pessoa que deve discordar é, bem... quem toca teclado.

Todo instrumento musical tem um clima, uma aura, um borogodó, uma paradinha. A guitarra é o mais cool de todos. Quem toca guitarra fica cool de qualquer maneira: de terno, de pijama, de cueca, gordo, magro. Quem se veste mal e toca guitarra é irônico e irreverente. Quem se veste mal e toca teclado é brega.

Até a tuba tem um clima. Tá bom, reconheço que não é em qualquer lugar que tuba cria um clima. Aquelas tubas de bandinha são, por falta de um termo mais polido, escrotas. Mas aqueles gordinhos suados e bochechudos que tocam em pubs de jazz e em enterros gospel são o máximo.

O sintetizador foi um mal necessário. Foi a salvação para uma porção de bandas da década de oitenta que não tinham grana para contratar músicos de verdade. Subitamente, os arranjos podiam contar com violinos, órgãos de fole, saxofones, símbalos, paus-de-chuva, oboés e outros instrumentos menos óbvios.

Alguns arranjos eram legaizinhos, outros chegaram a virar clássicos como a introdução de "Walk of Life" do Dire Straits, mas o que tem de música boa que ficou abregalhada por conta do tal do teclado não compensa. Sem contar que, mesmo quando o sintetizador evoluiu e ficou com som igual ao dos outros instrumentos, a presença física de um tecladista no palco não ajuda em nada a moral da banda.

Os tecladistas fazem de tudo: põem óculos escuros, tatuagem, gel no cabelo, piercing, maiô e nada adianta: continuam com cara de figurante e comendo só a amiga feia.

Mais: o teclado viabilizou o Calypso e mais dez outras mil bandinhas de quinta categoria e outros zilhões de duplas sertanejas. Não tenho nada contra ser músico de quinta categoria (eu mesmo sou músico de décima categoria, com orgulho), mas ser de quinta categoria tocando teclado é descer demais o nível. Se um músico ruim fosse um maníaco homicida, um tecladista ruim seria o advogado do maníaco homicida, ou seja, tá a uns dois metros abaixo do fundo do poço.

O teclado é um instrumento sem personalidade. É um instrumento que não tem som próprio. Quem compõe música em sintetizador não é músico, é DJ. Se a guitarra não existisse estaríamos muito mais pobres musicalmente. Se o teclado não existisse, sairíamos no lucro. Banda de rock, então, não precisa do teclado mesmo!

Mas tudo bem: perdôo o Dire Straits, o U2, O Van Halen, o The Cure (o Rod Stewart não!). Era novidade e economizava uma grana, mas chega, né moçada? Sei que agora existem vários softwares que são muito piores que o teclado (que, verdade seja dita, exigia ao menos alguma habilidade) e que estamos na época da falta de qualidade. Um desocupado faz um negócio qualquer com uma câmera digital, posta no Youtube e diz que é filme. Outros montam blog e se acham escritores – é demais!

Tem um lado bom? Até tem. Por causa de toda essa liberdade temos acesso a verdadeiros talentos que estariam escondidos dentro de um modelo mais rigoroso. O problema, como sempre, está na gente e não nos instrumentos (selam eles musicais ou não). Nossa eterna falta de bom-senso sempre volta para nos assombrar. Música com sintetizador até pode ter, mas daí a achar que toda música precisa do sintetizador é foda. Ou pior: achar que qualquer coisa feita com o sintetizador é música. Em suma: tem espaço pro teclado? Tem, mas é pequeno. Não abusem senão escrevo outra crônica e da próxima vez vou pegar pesado.

Deixa ver se explicando assim fica mais fácil de entender. Se uma banda fosse a Liga da Justiça (aquela dos super-heróis), o guitarrista seria o Superman. O baterista, o Batman (com cara de mau e tudo). O vocalista, a Mulher-Maravilha (especialmente se for um daqueles cabeludos de Heavy Metal). E o tecladista, o Aquaman. Você já viu algum moleque andando por aí com a camiseta do Aquaman? Foi o que eu pensei.

4 comentários:

  1. Ah, eu até que gosto do teclado, desde que sem exageros... Mas também não precisa que todas as músicas sejam com teclado. Uma ou outra é legal pra dar um climinha. Procura ouvir a música Sign of the Cross do Iron Maiden (de preferência uma versão ao vivo com o Bruce Dickinson nos vocais e não com o Blaze que gravou originalmente). Repare no clima tenso no início que o teclado dá. Mas banda que usa muito o teclado que eu gosto é o Savatage (o Handful of Rain é o que eu mais gosto). Mas, realmente, tudo o que você falou sobre os tecladistas é verdadeiro. São bregas mesmo!

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  2. Hiromi Uehara. Depois eu te mostro umas musicas dela.

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  3. Pô ZInho, você falou só a banda podre. Tem que falar das coisas boas também, John Lord em Deep Purple, Rick Wakeman no Yes, Richard Wright no Pink Floys, algumas músicas do John Paul Jones no Led Zeppelin, enfim sem generalizar cara, grande abraço!

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  4. Duas coisas:
    1. Ser razoável é pra mulherzinha - não tem graça.
    2. Qualquer arranjo que tem teclado continua o mesmo se tirar o teclado - é só botar o instrumento musical de verdade no lugar. As exceções óbvias são os kraftwerks da vida, Technopops e similares (Good ridance!)

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