segunda-feira, 23 de junho de 2008

Põe aqui o seu pezinho

Como metade das pessoas que têm computador, eu também recebi o e-mail bizarro da velha gueixa com o pé completamente atrofiado e deformado. Com uma mistura de orgulho e tristeza, a senhora mostrava o estado pé, com os dedos dobrados, peito do pé estufado e, como último recurso, o tendão cortado. Tudo para conseguir calçar um sapato número, sei lá, 29? 28?

O sapato era pequeno, mas é o que menos importa nessa história. O que importa é o seguinte: até onde estamos dispostos a ir para sermos aceitos? No caso da senhora japonesa, ela suportou uma imensa violência física por conta de determinadas pressões culturais e sociais. Mais freqüentemente, nós nos submetemos a algumas violências psicológicas para subir na vida e para ser convidado para as festas.

Às vezes nem percebemos e, outras, levamos na brincadeira. São as demandas do chefe chato, o terno de segunda à quinta, o sorriso amarelo diante do desafeto que casou com sua melhor amiga, o aniversário da tia inconveniente. Pressões sociais e culturais que, pensamos, não significam nada e, afinal, precisam ser obedecidas, sob pena de ostracismo ou, pior, indiferença.

Mas quando vejo essas páginas pessoais do Orkut e afins, com gente tirando a roupa, declarando que faz sexo com plantas e exibindo sua vida pessoal de forma explícita, me pergunto se essa onda de mostrar as cicatrizes na Internet já não tem um tempo. É que algumas cicatrizes são mais visíveis que outras...

Um comentário:

  1. Não entendi bem a relação entre a submissão a pressões sociais e a moda de despir-se, simbolica e/ou literalmente, na internet... Falando nisso, escrever um blog não seria uma forma de revelar-se também? Ou uma forma de se submeter aos imperativos da era da informatica?
    Suspeito que interpretar tudo em termos de alienação é uma ressaca dos anos 60. Tornou-se um reflexo, um tipo de flashback. Não seria tempo de considerar a possibilidade de que talvez as pessoas entejam fazendo exatamente o que querem (claro, dentro do possivel e das opções disponiveis)?
    Interessante notar que todos que pensam que fulano ou ciclano estão cedendo a pressões externas (o que equivale, explicita ou implicitamente, a uma condenação) nunca se vêem fazendo o mesmo... Estes estão sempre (ou quase sempre) isentos de pressões, ou se consideram fortes bastante para resisti-las.
    Lembro-me, de novo, de Wilde: "a unica forma de evitar a tentação é ceder a ela".
    Cedamos.

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