quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

O fã

Fã é uma contração de fanático e não sem motivo. Todo fã é um cara meio doido, alguém meio obcecado. Não me excluo, podem me considerar um fã de quadrinhos, ou de HQ, que é o termo fanaticamente correto. Quem mais pode dizer, de cor, todos os trabalhos do Neil Gaiman em ordem cronológica? Só o fã, admito.
Mas não fique apontando para mim enquanto segura o riso, pois todo mundo foi, é ou será fã de alguém ou de alguma coisa. E alguns são piores que os outros.
Fãs de Star Trek são um capítulo à parte. Os caras falam Klingon e vestem aquelas malhas justas nos seus encontros. E devem passar horas treinando só para fazer aquele sinalzinho que o Spock faz com os dedos – vida longa e próspera! Nunca consegui fazer aquilo...
E tem as adolescentes histéricas, que foram dos Beatles ao Menudo, com uma rápida passagem pelo Mário Covas, e aqueles caras que vão enfiando caixa de som no carro até o veículo ter que ficar amarrado em uma árvore para não sair quicando por aí. Todo mundo doido, ou seja, normal.
Mas tem um tipo de fã que é um nível abaixo dos demais, pelo simples motivo dele achar que está um nível acima. Ele próprio jamais se consideraria fã. Ele não pede autógrafo, ele não grita, ele não se empolga. É o fã intelectual.
Ele vai à ópera e ao recital e sempre faz aquela cara de enfado. Ele está eternamente insatisfeito com as interpretações das obras-primas de seus compositores clássicos idealizados. Ele torce o nariz quando alguém que não fez mestrado em filosofia na Sorbonne comenta alguma coisa sobre seu autor de preferência.
Como todo fã, ele é sistemático e nunca admite estar errado, mas, se discordar de você, não vai brigar. Ele sorrirá de lado e balançará a cabeça, com ar de superioridade. Mas o que mais irrita no fã intelectual é que ele se acha superior aos outros fãs – você precisa ouvir as atrocidades que ele fala sobre o fã de novelas.
Mas nós nunca vamos ouvir, o fã intelectual não dirige a palavra a qualquer um. Todo fã é chato, o intelectual é chatíssimo.
Veja bem que nada impede que você seja fã de música clássica e de autores consagrados. Ser fã de um intelectual não é a mesma coisa que ser um fã intelectual. Se você for capaz de defender o seu ídolo na porrada, pode ficar tranqüilo.

Um comentário:

  1. Acho que cometi um erro de marketing com essa crônica, pois acabei chamando todo mundo de chato, já que todo mundo é fã de alguma coisa... Agora já foi.

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