quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Sala de Corte

Quem gosta de cinema já deve estar familiarizado com o termo. Na época em que o filme não era digital (mês passado), costumava-se dizer que, quando muitas cenas do filme acabavam não fazendo parte da montagem final, elas iam parar no chão da sala de corte. Os filmes, na hora da edição eram literalmente cortados e remendados em outro ponto (veja Cinema Paradiso). O que não prestava, na opinião de quem estava editando, ficava perdido.
Hoje, não mais. A versão do diretor é um requisito básico nos especiais do DVD e aquela famosa cena que a gente ficou sabendo que existia, mas nunca viu, perdeu o seu charme. O bico do peito censurado, o discurso de teor político duvidoso, a cena extra de ação. Nada disso mais é suspense, já vimos tudo. E o formato digital grava sem limites e sem custo adicional.
Mas a sala de corte ainda existe, em sua versão figurada e especialmente quando o assunto é publicidade.
Em minha carreira de cliente de agência de publicidade já fui responsável, direta e indiretamente, por várias campanhas terem ido parar no chão da sala de corte. Algumas, possivelmente, eram melhores que as que foram ao ar. Mercado, política e falta de visão podem contribuir para que isso aconteça. E democracia também. Já participei de processos onde o voto da maioria foi definitivo para enterrar uma campanha vencedora.
Não contarei nenhum segredo, nem revelarei nenhum escândalo. Primeiro, porque a ética não permitiria e segundo, porque não existe nada de sórdido em escolher uma opção em detrimento de outra. Trata-se do processo natural de evolução, já que não existe dinheiro para fazer tudo. E o processo evolucionário nem sempre é justo, como já dizia o ornitorrinco.

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