quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

O Pudim

Aos nove anos de idade o Pudim assistiu a um filme de caratê, gostou, mas interpretou mal a mensagem. O ideal do personagem era o domínio da mente sobre o corpo e o Pudim dedicou toda sua vida a fazer justamente o contrário – o domínio do corpo sobre a mente. Dedicou-se tanto que conseguiu. Hoje, o Pudim praticamente não raciocina direito, mas é um exemplar magnífico da raça humana no quesito robustez física.
Uso o adjetivo magnífico no seu sentido mais amplo, claro. Quase tão amplo quanto o próprio Pudim, que tem o peitoral tão malhado e os braços tão musculosos que chega a ser maior em largura que em altura, resultando em uma criatura um tanto quanto assimétrica e de aparência parcialmente alienígena.
O Pudim é forte. Tão forte que, quando decidiu sair da empresa de reboque do irmão, a companhia faliu – ele era o reboque.
O Pudim entra em qualquer lugar, faz o que quer e nunca paga nada, pois ninguém tem coragem de cobrar ou interrompê-lo no que ele se propõe a fazer. Ele senta no restaurante, pede um de cada no cardápio e vai embora, sem dar satisfações. Quebra a vitrine das lojas, apanha a roupa que lhe atraiu e continua seu caminho. Uma vez chamaram a polícia, mas nenhum policial teve coragem de fazer nada. Nem de atirar – calcularam que a probabilidade da bala parar em um músculo e não atingir um órgão vital era alta. E se você vai atirar em alguém como o Pudim, é melhor que ele morra no primeiro disparo.
Caso você não tenha percebido, o Pudim é uma figura intimidadora. Uma verdadeira força da natureza. A última vez que o Pudim foi visto sorrindo foi em 1.983 e pode ter sido apenas uma contração involuntária da face. Não há provas de que o Pudim tenha humor, que dirá bom-humor.
O Pudim faz sexo com quem ele quiser, na hora que ele quiser e quando ele quiser e não há nada que você ou qualquer outra pessoa possa fazer para evitar.
O Pudim nunca matou ninguém. Ele acredita que morrer não é a pior coisa que pode acontecer a alguém e, quando o Pudim faz alguma coisa, é sempre a pior coisa. O Pudim é adepto do sofrimento – dos outros. Alguns colecionam selos, o Pudim coleciona técnicas de mutilação não-letais.
O Pudim é um cara sensível. Qualquer contratempo o irrita profundamente e ele fica muito nervoso quando está irritado e furioso quando fica nervoso. Certa vez um atendente de uma lanchonete trouxe um refrigerante com quatro cubos de gelo. A última coisa que as imagens da câmera de segurança do estabelecimento captaram foi o pudim arremessando a mesa para o lado e gritando:
— Eu pedi três!
O atendente nunca mis foi visto e, hoje, no lugar da lanchonete existe uma cratera.
Se algum dia o Pudim aparecer na sua frente, corra. Seja uno com os espíritos do vento e corra, corra como nunca ninguém correu antes. Não puxe conversa, não tente ser simpático, não perca tempo. Corra.
O Pudim é meu amigo e me tem na mais alta consideração. Achei que vocês deviam saber.

Nenhum comentário:

Postar um comentário